Tudo que se teme perder
Já se faz perdido
prefiro viver
Como que já tivesse vens-ido!
Reti essências naquelas reticências
Pontos de pensamentos e descoerências
Três fins fazendo desfindamento
Ponto,ponto, pronto!
Re-Ti sem SI, as minhas idéias...
(Igor Barbosa)
Frente ao espelho,
Só ria ... Menina
... Consome
a alegria
Que o reflexo te ensina
Sina, é alegria, a tua...
"Leve, como uma coisa que começasse, a maresia da brisa pairou sobre o Tejo e espalhou-se sujamente pelos princípios da Baixa. Nauseava frescamente, num torpor frio de mar morto. Senti a vida no estômago, e o olfacto tornou-se-me uma coisa por detrás dos olhos. Altas, pousavam em nada nuvens ralas, rolos, num cinzento a desmoronar-se para branco falso. A atmosfera era de uma ameaça de céu cobarde, como a de uma trovoada inaudível, feita de ar somente.
Havia estagnação no próprio voo das gaivotas; pareciam coisas mais leves que o ar, deixadas nele por alguém. Nada abafava. A tarde caía num desassossego nosso; o ar refrescava intermitentemente.
Pobres das esperanças que tenho tido, saídas da vida que tenho tido de ter! São como esta hora e este ar, névoas sem névoa, alinhavos rotos de tormenta falsa. Tenho vontade de gritar, para acabar com a paisagem e a meditação. Mas há maresia no meu propósito, e a baixa-mar em mim deixou descoberto o negrume lodoso que está ali fora e não vejo senão pelo cheiro.
Tanta inconsequência em querer bastar-me! Tanta consciência sarcástica das sensações supostas! Tanto enredo da alma com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para dizer que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não saber dizer, como na frase simples e ampla do livro de Job, "Minha alma está cansada de minha vida!"
Tenho uma palavra a dizer...
Que ainda não foi inventada
tenho uma palavra e em seu lugar,
há nada...
Ouvi uma palavra calada
Alguma coisa...
sendo imaginada,
porém, seu som
... ainda, é nada.
De que serve uma palavra dessa?
Esforço-me pra falar
mas não tem pressa
é como um pensamento...
que não se interessa
a fazer...
sua essência expressa
De todas as coisas...
que no mundo um ser versa
a minha fala ficou a mercê dessa
Quem é tu que se dispersa?
Vem pra cá e te confessa!
Nem que seja só uma letra
Ao menos a que te começa
Diga, ainda que com uma caneta
...não me fuja à fala
como um cometa
não me mate a bala
sem uma conversa
Desatravessa, depressa...
te expressa à tinta
mas não minta
te expressa ou deixa...
de fazer...
... com que eu te sinta
Deixa eu entender ...
se acabou a tinta,
se cessou a fala,
porque tu te cala...
se não há mais letras...
se não há espaço
...ou não é o tempo
Pois no silêncio...
a de se perceber o teu alarde
e não será mais tarde,
é agora!
... No espaço desse momento
o teu silêncio arde...
e eu quase posso ouvir
tu, sem voz, se dizer...
... me aguarde...