Derrubei um touro pelo chifre. Depois de se sentir tomado, ficou acuado. Sentiu meus braços em seu pescoço e o peso de seu corpo recaindo sobre si... O tombo o desconcertou, touros são de terra firme, o ar os mareia. O derrubei e depois o soltei, pois queria que ele me desse um abraço. Um abraço de touro, um abraço de amigo. De pé novamente, seus olhos me fitavam indecisos, ainda perdidos no ar da queda, se sentia acuado, mas seu olhar sabia, que no meu, podia confiar. Como ou porque, não sei explicar... O que tornou mais difícil saber que decisão tomar. Então nos olhávamos, eu o encarava, ele me dês-encarava, fitando e fugindo ao meu olhar... Naquela conversa de olhos, cada piscadela parecia demorar horas, em nossos olhares de horizontes.
Começamos a dançar. Uma dança de “amistosos rivais”, um tango de arena... Eu o rodeava, já poderia o abraçar. Ele já não resistiria ao meu abraço. Porem não era uma caça, então pensava, porque ele não me abraça. Fazia a poeira subir pateando o chão, e num desses eclipses de areia, de repente, quando a poeira baixa... Vejo que por trás dele, estamos cercados... Tanto eu como ele, vivemos num curral, numa arena... Acoitados sem escolha, enjaulados. Se me abrasasse ali, apenas dividiríamos nossas arenas. Se me abraça, não tem mais paz, outros viriam aos montes derrubar o touro, que de uma hora pra outra, ficou manso. Que impasse... Já não sabia o que fazer... E foi quando no meio da arena, o indeciso e indomado touro, imponentemente sentou. Por mim, no ato, demonstrou seu respeito. Pensei: eu não o mato, pois o carrego em meu peito, pelo que não falou e o que não tenha feito. Aquele touro não me abraçou, mas me conteve, por dentro dos olhos. No mais, aqui fora, estamos todos presos do outro lado da arena.
(Igor Barbosa)
Um comentário:
Fico eu aqui do outro lado sem saber com quem mais me identifico no momento,se com o homem ou com o touro.
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