Aquela mulher que encontrei sem procura... "encontrei-me-a", em si, e que depois procurei, no meu cansar... Outro dia estava subindo as escadas do departamento e de súbito, o universo brincou com meu tormento... Esbarramos um no outro, quase misturando nossas pressas, nossas angustias por se dês-apressar, pareceram ainda maiores naquele momento...
-Oi! Nossa que evento, como é difícil encontrar essa mulher, tão ocupada! (risos simples)
-(risos simples complacentes) O que é isso rapaz, olha a idéia que você faz de mim. (negando só por negar, sua demasiada ocupação)
-(Falei dos poemas) Quando você me manda os seus? Ainda não me mandou, e prometeu!
-Mando por E-mail, mas já disse que não sou poeta.(uma "não-poetisa" poética)
Devia ter dito que não era nenhum critico, só queira poder re-tê-la em suas poesias. Ao invés disse:
-Tudo bem, não tem presa, eu espero.(negando só por negar, minha demasiada agunia)
O Súbito acabou-se, de encontro, nos abraçamos. Numa ação covarde, sorriu sem me avisar, para que me protegesse de sua alegria.(quando vi já era tarde...) Mais covardemente ainda, no abraço que nos demos, roubei-lhe o cheiro de seus cabelos. Quando consumi por completo aquele cheiro, como fosse possível apaga-lo de minha mente, ela já tinha se ido, mas o cheiro de seus vastos cabelos ficou até um primeiro suspiro...
Idas nossas pressas, ficaram as agonias em se re-apressar, re-correr aos dês-afazeres acadêmicos. Subi, descendo as escadas... Mandei meu corpo ir escrever seminários sobre "prática social" e minha mente, já sem fôlego, foi viver na prática atrás dela, aquela "não-poetisa" poética. Porém, para a minha surpresa, acabados ou frustrados meus dês-afazeres, fui-me daquele departamento, cárcere de nossas pressas, como quem já não estivesse lá a muito tempo.
Na fuga, me deparei com algo que me deixou estático novamente. Re-senti de súbito enquanto aproximava-me daquelas escadas, o fantástico da ausência de nosso "ultimo primeiro" encontro, estaria ali presente. Quando pensei em descê-las, lembrei-me novamente daquele momento, como se já fosse possível, lembrar-se do que não se teria esquecido.
Apressei o passo, criminosamente desesperado, pensei que podia esbarrar nela novamente, no meio das escadas, como da primeira vez. De repente passou pela minha cabeça: "Quem sabe sua pressa não a tivesse feito esquecer alguma coisa, que agora voltava pra buscar. quem sabe quisesse pensar que esqueceu, e assim esquecer por se lembrar."
Me enchi de esperança, minha pressa passou, tive agonia... como caminhava pelo corredor fiz a curva e desci as escadas, todo meu monólogo seria em movimento, não iria parar por hesitar maior tormento. fingi ter certeza. Re-espirei aquele encontro de pressas, com bastante calma, encerrando minha decida no local e no final daquele primeiro suspiro que estendera até tal momento.
Ela não estava lá, mas daquele dia até agora, subir ou descer, caminhar o correr por aquelas escadas, ainda me traz seus vastos cabelos, seu criminoso sorriso de encanto, assim como seus olhos de se olhar, o brilho. Já mesmo nos dês-re-encontros, insisto em nos re-encontrar, e nem o posso fazê-lo diferente, pois o cheiro daqueles cabelos, nos re-traz em minha mente.
Fica agora a necessidade da amnésia, ou pelo menos, a perda do olfato. Enquanto elas não vem, lembro e cheiro aquele nosso ultimo primeiro ato.
(Igor Barbosa)